Acho que chorar de alegria é um sentimento nobre.
A carta que voou pra América do Norte está perdida. Só depois de decidir não rastrear ela mais é que aceitei o fato de que não poderia haver situação mais propícia pro seu passeio, já que as circunstâncias que precederam sua partida foram tão curiosas quanto todo o resto da curta história.
No ócio de imaginar uma possibilidade de novos caminhos e acasos, penso que talvez ela deva mesmo tocar outras mãos. Que precisem, em algum lugar muito distante do seu destino final, de um pouco da paz da Lua Cheia guardada em seu envelope - já sem cheiro à essa hora. Que cheiros ela já deve ter guardado por onde passou?
E quem sabe ela encontre alguém que precise também escutar com os olhos a sinfonia que ela esconde nas suas linhas...
Não desacredito nem deixo morrer o meu fascínio pelos encontros imediatos arrebatadores. Aqueles em que você encara o sentimento do mundo. Mas até esses encontros não fogem dos rastros que vieram antes, escondidos na sua garupa imaginária.
Seguindo a voz do Almir Sater, me consola saber que qualquer coisa, tida como pequena ou grandiosa, ainda pode chegar a qualquer lugar. Não vou parar de escrever nas Luas Cheias.
Sentir a chuva esses dias é como estar chegando na reta final do seu prato favorito: você come devagar porque não quer que acabe. Já sente saudade antes mesmo de terminar. É prazeroso, mas é um jeito de demonstrar certo amor também.
Como o tempo tá passando muito rápido, a proximidade das águas de março já me deixa triste. Quando eu escuto as gotas começando a cair, corro pra fora e sento no chão enquanto a chuva me banha. Eu respiro fundo pra conseguir guardar o cheiro da terra molhada. Não quero que acabe. Fico só a melancolia quando ela se vai - mas o momento de frenesi quando ela vem é ímpar.
Viver é uma delícia, mesmo quando o Sal não é da água do mar.
Subia a rampa, manca. A lâmina de ferro atracada ao pé esquerdo a suspendia a cada passo. Uma fina linha de arrepio chegava ao lado esquerdo do seu peito. Seu coração flutuava pra frente e pra trás. Prestava atenção nas sombras das folhas nas paredes. A Lua estava achatada no céu, como se estivesse pisada. Ela era uma lanterna antiga pro povo que vivia ali, há muitos e muitos séculos.
Quando parava pra descansar, pensava.
Quantos anos seriam?
Ferida, inventou a astronomia.
às vezes eu torço pra que a energia da cidade acabe
e, no escuro, eu possa imaginar que toda a serra aqui é o mar.
quando tem vento eu fecho os olhos e simulo a maresia;
como se ela fosse um cheiro no cangote que eu ganho do moreno.
se uma gota de chuva cai no meu rosto
eu atinjo o nirvana.
E há uma bem-aventurança física que a nada se compara. O corpo se transforma em um dom. E se sente que é um dom porque se está se experimentando, em fonte direta, a dádiva de repente indubitável de existir milagrosamente e materialmente.
Tudo ganha uma espécie de nimbo que não é imaginário: vem do esplendor da irradiação matemática das coisas e da lembrança de pessoas. Passa-se a sentir que tudo que existe respira e exala um finíssimo esplendor de energia. A verdade do mundo, porém, é impalpável.Não é nem de longe o que mal imagino deve ser o estado de graça dos santos. Este estado jamais conheci e nem sequer consigo adivinhá-lo. É apenas a graça de uma pessoa comum que a torna de súbito real porque é comum e humana e reconhecível.
As descobertas nesse sentido são indizíveis e incomunicáveis. E impensáveis. É por isso que na graça eu me mantive sentada, quieta, silenciosa. E como em uma anunciação. Não sendo porém precedida por anjos. Mas é como se o anjo da vida viesse me anunciar o mundo.
Depois lentamente saí. Não como se estivesse estado em transe - não há nenhum transe - sai-se devagar, com um suspiro de quem teve tudo como o tudo que é. Também já é um suspiro de saudade. pois tendo experimentado ganhar um corpo e uma alma, quer-se mais e mais. Inútil querer: só vem quando quer e espontaneamente.
Essa felicidade eu quis tornar eterna por intermédio da objetivação da palavra. fui logo depois procurar no dicionário a palavra beatitude que detesto como palavra e vi que quer dizer gozo da alma. Fala em felicidade tranqüila - eu chamaria porém de transporte ou de levitação. Também não gosto da continuação no dicionário que dia: "de quem se absorve em contemplação mística". Não é verdade: eu não estava de modo algum em meditação, não houve em mim nenhuma religiosidade. Tinha acabado de tomar café e estava simplesmente vivendo ali sentada com um cigarro queimando-se no cinzeiro.
[...]
E eis que depois de uma tarde de "quem sou eu" e de acordar à uma hora da madrugada ainda em desespero - eis que às três horas da madrugada acordei e me encontrei. Fui ao encontro de mim. Calma, alegre, plenitude sem fulminação. Simplesmente eu sou eu. e você é você. É vasto, vai durar.
O que te escrevo é um "isto". Não vai parar: continua.
Olha para mim e me ama. Não: tu olhas para ti e te amas. É o que está certo.
O que te escrevo continua e estou enfeitiçada.
Algunas heridas nunca se cierran a propósito.
Y lo hacen precisamente para cumplir con la medida de los cuchillos que les quedan.
La ley de la naturaleza me llevó a creer que el tiempo se ocuparía de hacer que el dolor fuera incómodo, hasta que desapareciera o se volviera imperceptible.
Pero incluso el dolor cambia.
Las heridas cambian de forma.
Son como los árboles del viejo bosque de la Tierra Media. Tolkien ló sabía.
A veces, alguien con botas amarillas abre paso al camino del otro lado.
La alegría y el consuelo son los anestésicos de las heridas.
Ellos nunca se cierran a propósito.
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